Arrisco afirmar que, se não paulistana, o motoboy é uma invenção totalmente made in brazil. Surgiu à mesma proporção que o trânsito de São Paulo restringiu cada vez mais os espaços de circulação de pessoas e bens; vistos de uma perspectiva histórica, os motoboys atingiram o status de nação na mesma medida em que a brasileira luta para inserir-se no contexto primeiro-mundista de face miamaica e seus valores – quais sejam, eficiência, produtividade, competência, rapidez, concorrência et caterva. Que quer dizer isto? Significa que o dinheiro, que neoliberalmente sabemos ser nada mais que tempo, diminuiu os espaços físicos: portanto, para ser mais competitivo, mais lucrativo, você precisa ser mais rápido – leia-se entregar serviços em tempo menor, para assim conseguir mais serviços, mais dinheiro (e, paradoxalmente, menos tempo para gastar fazendo nonadas; isso, porém, é tema para outro ensaio). Numa cidade grande, de imenso volume de tráfego, esperar que um mero office-boy entregue seus papéis valiosos utilizando-se do ônibus é, no mínimo, um tratado de boas intenções. O uso de automóveis é ainda mais anti-produtivo, dado que todas as faixas de trânsito estarão, indubitavelmente, ocupadas nos horários de pico – ou, como presenciamos atualmente, em quase todos os horários. Quem então teria o poder de entregar seu serviço de modo infalível? Os que correm à margem; não os que se movimentam como elefantes em direção do cemitério, ou os que caminham em cortejo de boiada mansa: mas as libélulas, as abelhas, as moscas, as vespas – as motos; os office-boys motocicletados: os motoboys.